quinta-feira, 28 de abril de 2011

Quando os japoneses acabaram com a minha vida

A vida costumava ter mais sentido para mim. Tudo andava de acordo com o seu tempo e na medida certa. À noite eu dava corda no despertador, verificava a hora de tocar, apagava a luz do abajur e encostava a cabeça no travesseiro para dormir. Havia ocasiões em que não apagava a luz e ficava lendo por algum tempo, mas isso era raro, gostava de ler era na minha poltrona favorita.
De manhã acordava ao primeiro toque. Fazia a barba, tomava banho e a seguir me vestia. Depois sentava na cama e dava corda no relógio de pulso. Pertenceu ao meu pai, que o recebeu do meu avô. Era como se eu soprasse vida nele, parecia que os ponteiros se mexiam com mais vigor após as primeiras voltas que dava no mecanismo.
Um dia ganhei de presente um relógio de pulso novo, todo reluzente e cheio de funções. Como é que se dá corda, perguntei. Ao que me responderam, não precisa, ele só para quando acaba a bateria. Agora não consigo mais dormir direito, pois sei que, de uma hora para outra, ele pode deixar de funcionar.


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