quinta-feira, 28 de abril de 2011

Paciência

Que tédio, não tem nada pra fazer nessa praia. Aqui é legal, mas só tem a praia, uma meia dúzia de casas, pescadores e um armazém velho. A mãe insistiu que eu viesse com os meus tios e a prima. Estou de férias, né? Não tinha mesmo o que fazer em casa. Três meses sem o que fazer... Então vim. Minha prima já tá na faculdade, se acha a tal. É bem gostosa, com a sua bundinha empinada e uns peitões. Não sei como aguenta vir pra cá. E ela disse que, às vezes, vem até no inverno. Tem louco pra tudo... De tarde já tinha feito o que havia pra fazer: peguei jacaré e andei de bici. Como aqui não tem nem televisão, apanhei um dos livros que a prima trouxe, achei o título engraçado e resolvi dar uma olhada, “Histórias de cronópios e de famas”, de um tal Julio Cortázar. Li algumas historinhas e até encontrei umas frases interessantes, como esta: “A vida está cheia de belezas assim”. Mas não entendi coisa nenhuma, cada viagem. Aquele cara não deve regular bem da cabeça. Ela disse que ele era um gênio; tudo bem, mas continuei sem entender coisa alguma. À noite, depois do jantar, é pior ainda, estou sem sono e tem menos coisas pra se fazer. A minha prima se tranca no quarto dela e acende uns incensos. Meus tios disseram, “Vem olhar as estrelas na beira da praia”. Eu vou, né? Não tenho nada pra fazer. Pior que é bonito mesmo. Aquele escuro, a noite limpinha, e um montão de estrelas. E quanta estrela cadente! Nunca tinha visto, não sabia que era assim. Mas logo fico de saco cheio e resolvo dar uma volta. Pra onde não sei, acabo indo em direção à casa, mas não entro. Passo pelo lado dela e subo o barranquinho que tem no terreno, atrás. Sento no chão e fico olhando pro céu. Daí, abaixo a cabeça pra descansar o pescoço e olha só, enxergo a janela do quarto da minha prima aberta, e ela está acocorada na cama, jogando paciência. E o que é melhor, peladona. Não é que o Cortázar tinha razão? A vida está cheia de belezas assim.

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